Eu odeio despedidas. Mas, se tem algo que odeio mais é não
me despedir. Todos os dias saímos de casa e não sabemos o que pode acontecer,
se voltaremos ou não. Tudo muda quando a Morte entra na nossa vida. Se não
muda, deveria. Ainda não sei como será quando chegar em casa e não encontrar
meu amigo de quatro patas mordendo meu calcanhar, olhando-me pedindo colo,
quase que falando comigo. Não consigo lembrar da última vez que me despedi
dele. Eu deveria estar arrumado para o trabalho e não queria sujar a roupa,
provavelmente. Arrependimento não é máquina do tempo; arrependimento não muda o
passado. Ainda consigo lembrar da energia do seu balançar de rabo ao me ver. E
só de lembrar surge um aperto no peito ao saber que não poderei mais pegá-lo no
colo. Ela não manda cartas, Ela não avisa quando virá nos visitar. Ela vem, nos
rouba e deixa o vazio.