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terça-feira, 23 de abril de 2013

Chuva quente



Você percebe algo de errado quando seu banho é demorado.
Quando, debaixo do chuveiro, seus olhos se fecham com força,
E você encosta a cabeça na parede, e segura os olhos embaçados.
Quando nos seus pés, já começa a se formar uma pequena poça.

Aí você abre o ralo, deixa a água ir embora, e surge um vazio.
Um vazio estranho. Alguma coisa que não deveria foi por água fora.
Com tudo limpo, o banho termina, o boxe se abre, e vem o frio.
O boxe se fecha, o chuveiro também, e tudo se embaça, e agora?

Você senta com a cabeça nos joelhos, sentindo a chuva quente.
Como se sabão caído nos olhos tivesse, ardem e embaçam também.
“Chega!” – Você diz, levantando e desligando e lavando a sua mente.

Com a toalha já no corpo, você limpa o espelho e dá um sorriso torto
Que torto ou não, não consegue enganar nem a si nem a ninguém
De que não está tudo bem, e que aquilo que foi vivido, ainda não está morto.