Buraco em mim

 

É forte o impacto que a distância causa.

Ela te rouba a rotina e as pequenas coisas

Que realmente importam na vida.

A distância física reduz os assuntos

 

Que a convivência trazia com naturalidade.

Ela intensifica a saudade, mas também as cobranças.

A distância emocional intensifica os sentimentos,

As dúvidas, as inseguranças, as dores, e a solidão.

 

É como se um oceano nos separasse, 

E por mais que eu esteja disposto a nadar

E talvez morrer afogado, sinto um vazio.

 

A única pessoa que a distância pode te aproximar

É a si próprio, e ao Arquiteto do Universo.

O problema é quando você se perde no próprio vazio interno...

Dores partidas

Meus olhos ardem ao lembrar das noites

Em que tomávamos vinho e conversávamos sobre a vida,

Em uma estranha leveza pura de quem se ama

Aguardando o esgotar-se das garrafas

 

Para finalmente minha boca perdida no seu rosto

Pudesse encontrar a sua

E meus pés abraçar e aquecerem os seus.

Como era bom poder te amar.

 

Meu lar ficava na tranquilidade do seu abraço

E agora um oceano cresceu entre a gente...

Foi durante a missão na África que me dei conta

 

Que não se compara dores.

Nem a de quem parte,

Muito menos a de quem fica. 

Ecos do coração

 Não sei explicar essa chuva dentro da minha varanda,

Esse vazio no peito que me engole e desorienta.

A chuva veio limpar toda a cor que você coloriu

Na monotonia dos meus dias que não tinham fim.

 

Já não posso me acolher no calor do seu abraço

Não posso deitar minha cabeça no seu colo 

Muito menos desenhar as linhas do seu rosto

Com as minhas mãos.

 

Digo que vai ficar tudo bem,

Que isso tudo vai passar

E vamos voltar a ser felizes...

 

Mas a saudade espanca

A dor te diminui

E tua ausência me mata.

Passo Lateral

  

Como é doce a lembrança de ter você todos os dias

Acordar e saber que tenho você na minha rotina

Compartilhar momentos do nosso dia

E poder ouvir tudo que tem para me contar.

 

Escolhi uma vida na qual minha presença

Já não pode fazer mais parte da sua.

E a cada dia ficamos mais distantes um do outro

Reféns de um sentimento puro e intenso.

 

Até o momento em que você não vai aguentar mais

E vai guardar esse sentimento longe do seu coração

Porque amor sem presença é o mesmo que sonhar 

 

E saber que nunca irá realizar esse sonho.

Resta-me sair do seu caminho e deixar

Você viver com quem realmente mereça e te faça feliz.

 

Dois mundos

Ela tem o poder de aproximar, afastar

E é forte o suficiente para te transformar

Em alguém que jamais pensou ser.

Ela distorce o espaço-tempo na realidade,

 

Fazendo-nos questionar se o que estamos a ver

É de fato aquilo que pensávamos ser verdade.

Ela torna mais pesada a escuridão dentro de mim

E isso potencializa a presença brilhante e luminosa

 

Da pessoa que me faz todos os dias dizer sim

Ao sentimento que faz a vida ser calorosa

Até mesmo quando você entra em “pane”.

 

A distância intensifica nossas emoções

E pode ser até que ela me engane

Mas eu conheço nossos corações.

Leve explosão

  

São muitos sentimentos comprimidos a alta pressão

Até o ponto em que estoura e entra desordenada combustão

Preenchendo o vazio enorme que repousa em nosso peito

Nos tirando do chão e levando onde o ar é rarefeito

 

Sem saber por quanto tempo e qual a direção

Somos conduzidos e não podemos mais governar

E certamente não voltaremos para o mesmo lugar

E não seremos os mesmos depois dessa explosão

 

O vento sopra no meu rosto e sinto a leveza

De não ter o chão aos meus pés e a decisão em minhas mãos

Apenas carrego em meu peito a certeza

 

De ter entregue em todas as coisas o meu coração

Até o momento onde precisei me encontrar

E perceber que amar é como em um balão embarcar.

 

Andrômeda

Era só mais um dia qualquer de abril

E estávamos sentadeitados no sofá

Como o Atlas na mitologia grega

Eu a tinha em meus braços

 

Segurei seu rosto, e fitava

Cada singela curva

Cada pequeno traço

Na intenção de ter cada detalhe

 

Registrado em minha memória

Até que eu sorri e liguei as pequeninas

E charmosas encantadoras pintas

 

Através de linhas imaginárias com meu dedo,

Como estrelas que formam primorosas constelações

Maravilhosamente fascinantes no céu que habita em mim.

Viajante

Às vezes fico indo e voltando no tempo,

Sem saber ao certo o que procuro

Como um lobo no relento

Guiado pelo instinto, no escuro.

 

Olhamos sem enxergar

que tudo no passado é igual

tudo tem a mesma cor

tudo tem o mesmo sabor e odor

 

E a vida lá não compensa

E a vida aqui com a cabeça lá não dá paz

E essa viagem tem sim um porquê.

 

Não que a dor não me convença

Mas, não ser aquele ser errante mais

Faz você perceber que quem mudou foi você.

Estequiometria

 

A forma como você toca me excita

Liberando uma nova e intensa química,

Que esquenta ainda mais quando me fita 

Com a boca entreaberta, fazendo mímica

 

Com meu corpo em cima do seu,

Sua mão apertando e me arranhando

Sua respiração acelerando

Seguro seu cabelo, aperto seu

 

Pescoço, você sorri, abre a boca,

Fecha os olhos, pede mais

Se contrai, relaxa, fica louca

 

Sons que se ouvem com os olhos,

Que se propagam com sua pele na minha

Quando você chega e me beija. 

Fogo e gasolina

 

 

Já não é novidade não saber explicar

As coisas quando o assunto é você.

Tua pele macia toca na minha

Como o fogo quando encontra gasolina

 

E o ar condicionado não refresca o suficiente

Para evitar que o suor escorra do meu corpo

E caia sobre o teu quando você está de lado

E seu cabelo enrolado em uma mão

 

E a outra carimbada na sua bunda.

E a gente foge para o banheiro,

Numa tentativa ineficaz de banhar

 

Mas, sua boca encontra a minha

E nosso suor começa a se misturar

Com a água que cai do chuveiro. 

Falso soneto

 

Louco porém cansado e sem direção

Assim é quando nele se entra.

Bússolas não funcionam,

Instruções não há.

 

Ri-se de nervoso, pois não há

Intenção de permanência 

Nada além de sobrevivência.

Tentativas de escapatória 

 

Ora se confundem com sacrifício,

Suicídio da mente, dos pensamentos

E nada parece ser capaz de guiar, de

 

Mostrar a saída desse purgatório sem

Fim, desse sofrimento, dessa dor

Incessante, que aperta meu peito e

Me lança ao abismo da vida. 

Arrependimento

  

De longe um dos sentimentos mais inúteis

Que ora sentimos vez ou outra.

Nada muda o que já passou

E não seria ele o diferente

 

Não há como desviver as coisas

Apenas se desgastar com os fatos

Viver no submundo das emoções 

De cabeça baixa e acuados como ratos. 

 

São infinitas possibilidades 

Incontáveis ‘e se’

Em vão.

 

Inútil.

Imutável.

Incompreendido.

Menos cabeça, mais coração

  

A maioria de nós escreve ou já escreveu

Sobre como é maravilhosamente bom

Sentir borboletas no estômago e o peito aquecer.

Mas, a maioria não chegou perto da verdade.

 

O sentimento não é racional,

Ele é o oposto disso. 

Quando se consegue descrever com detalhes,

É sinal de que pensamos demais.

 

É sinal de que buscamos encontrar

Motivos que justifiquem o que sentimos,

E suporte tudo aquilo que as pessoas dizem.

 

Talvez seja essa a explicação

De que eu não tenho motivos para amar.

O amor não se justifica, ele só se sente.