O sol hoje nasceu escondido atrás das nuvens negras.
Dizem que a chuva é a tentativa do céu se aproximar do mar.
Uma tentativa vã, de poder tocá-lo, senti-lo sem regras.
Meus poemas a chuva, o mar o amor, as lágrimas a se formar.
Levanto da cama, vou ao banheiro dar uma mijada e me despir.
Visto-me com uma roupa confortável, bem velha e furada.
Pego meu copo sujo de whisky de ontem e começo a me
despedir.
Encho-o e acendo um cigarro. Arrasto-me até a sacada...
Um trovão rasga o céu com violência, e acendo outro cigarro.
As gotas de chuva começam a cair de lado, e inclino minha
cabeça.
Agora elas caem verticalmente. Tudo depende do ângulo, do
referencial.
Minha febre então aumenta, e começo a me engasgar com o
catarro.
Pego a garrafa e me sirvo de mais uma dose amarga de mágoa e
agonia.
Meus poemas, meu corpo, a chuva. Ela, o inferno, o mar.