Um navio não se navega sozinho. Precisa de uma tripulação.
Eu tinha uma missão perigosa; uma missão de ida, sem volta.
Reuni a tripulação e repassei a notícia; foram muitos os
murmúrios.
Decidi que perto do objetivo, todos abandonariam o navio, em
seus botes.
E então meu navio desatracou, deixou o porto pela última
vez...
Deixou para trás toda aquela terra cheia de pessoas.
Em alto mar, é só você e o mar. Não dá para confiar completamente;
Mas com o tempo a gente acostuma com ele, ele nos entende, e
nós o entendemos.
Em terra firme, é você contra as pessoas. Pessoas de todos
os tipos...
Pessoas vazias, pessoas cheias de si; pessoas egoístas;
pessoas invejosas;
Pessoas que destroem outras pessoas; pessoas que pensam
demais;
Pessoas que não pensam; pessoas que não sabem nem que são
pessoas.
E ainda existem as pessoas que querem ser outras pessoas...
Essas são o pior tipo. É triste, querer ser algo que já
existe, querer ser alguém...
Dos outros o mundo já está cheio; e enquanto os outros
copiam os outros;
Eu comando meu navio, no meu rumo, para onde eu quero, e
quando quero.
O mundo está cheio de idiotas; e cada vez o mundo perde
alguém.
Antes morresse; mas apenas perdeu alguém que se tornou mais
um idiota.
E de idiotas, a terra firme está cheia. A terra firme é
segura e confiável;
Mas os seus habitantes, não. O mar não tem esse problema.
Certa vez conheci uma comandante, e ela adorava o mar.
Ela adorava tanto que podia-se dizer que o amava.
E para provar esse amor, ela pegou seu navio e o afundou.
Para fugir da terra firme, o mar é a única solução...
A missão era só de ida. Meu navio não voltaria.
Seu destino: Fundo do mar.
Sua tripulação: O comandante.
Afinal, quem manda nessa porra sou eu.
"Eu prefiro o mar. Não porque é água, mas porque não é terra firme. "
(- Da série "Em alto mar.")