Dia cinza, a chuva não
deu trégua. O frio inflamou a garganta, e a dor o peito. Terminara
de ler um livro, e nele vi algumas palavras de Buda. Ele disse que
tudo o que é construído termina por desmoronar; a primeira coisa
que se passou pela minha cabeça foi que então, segundo ele eu estou
desmoronado. Não levei a frente isso, e continuei lendo. Ele disse,
também, que o sofrimento é causado pelo desejo; e então foi que a
segunda coisa que me passou pela cabeça foi ela; o meu desejo.
Continuei lendo, e ele sugeriu que a suspensão do desejo implicava
na suspensão do sofrimento, e se pararmos de desejar que as coisas
perdurem, não iremos sofrer quando elas desmoronarem... Realmente,
muito profundo, verdade verdadeira, emocionante. Mas, eu não podia
abrir mão desse sofrimento. Não podia porque a única coisa que me
mantinha ligado a ela era o meu desejo. Sem o meu desejo, ela não
seria nada. Ela era tudo, só não sabia disso. Ela desmoronaria em
mim, deixaria de existir, se eu não a desejasse. De qualquer forma,
eu teria que escolher entre deixar de sofrer por deseja-la e sofrer
por não tê-la mais dentro de mim, ou sofrer por deseja-la. O
desmoronamento é inevitável, o amor também.
Desejos levam ao
sofrimento... Então não desejar seria não sofrer... E o caminho
para a felicidade seria não desejar... Mas, não seria a felicidade,
um desejo? Por mais que seja consequência de não desejar, no final
das contas, agimos almejando a felicidade; desejando-a. No fundo, se
a felicidade é um desejo, a felicidade leva ao sofrimento também.
Sofrer é inevitável, amar também.
O amor é frio como o
Alasca, aquilo em que o mar bater, congela.
Quando estamos tristes,
o que fazemos? Choramos; Quando estamos felizes, o que fazemos?
Sorrimos; E quando amamos? O que fazemos? ... Fazemos tudo errado.