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terça-feira, 15 de abril de 2014

A lasca


Dia cinza, a chuva não deu trégua. O frio inflamou a garganta, e a dor o peito. Terminara de ler um livro, e nele vi algumas palavras de Buda. Ele disse que tudo o que é construído termina por desmoronar; a primeira coisa que se passou pela minha cabeça foi que então, segundo ele eu estou desmoronado. Não levei a frente isso, e continuei lendo. Ele disse, também, que o sofrimento é causado pelo desejo; e então foi que a segunda coisa que me passou pela cabeça foi ela; o meu desejo. Continuei lendo, e ele sugeriu que a suspensão do desejo implicava na suspensão do sofrimento, e se pararmos de desejar que as coisas perdurem, não iremos sofrer quando elas desmoronarem... Realmente, muito profundo, verdade verdadeira, emocionante. Mas, eu não podia abrir mão desse sofrimento. Não podia porque a única coisa que me mantinha ligado a ela era o meu desejo. Sem o meu desejo, ela não seria nada. Ela era tudo, só não sabia disso. Ela desmoronaria em mim, deixaria de existir, se eu não a desejasse. De qualquer forma, eu teria que escolher entre deixar de sofrer por deseja-la e sofrer por não tê-la mais dentro de mim, ou sofrer por deseja-la. O desmoronamento é inevitável, o amor também.
Desejos levam ao sofrimento... Então não desejar seria não sofrer... E o caminho para a felicidade seria não desejar... Mas, não seria a felicidade, um desejo? Por mais que seja consequência de não desejar, no final das contas, agimos almejando a felicidade; desejando-a. No fundo, se a felicidade é um desejo, a felicidade leva ao sofrimento também. Sofrer é inevitável, amar também.

O amor é frio como o Alasca, aquilo em que o mar bater, congela.


Quando estamos tristes, o que fazemos? Choramos; Quando estamos felizes, o que fazemos? Sorrimos; E quando amamos? O que fazemos? ... Fazemos tudo errado.